segunda-feira, 31 de maio de 2010

Adega de Pegões Colheita Seleccionada Branco 2009


O porta-estandarte dos vinhos brancos da Cooperativa Agrícola de Santo Isidro de Pegões, aka Adega de Pegões colheita seleccionada é um dos vinhos com melhor relação qualidade preço do mercado. É feito com Arinto, Chardonnay e Antão Vaz e passa por madeira. Atendendo a que o estágio em madeira pode onerar o custo duma garrafa de vinho branco em 2 a 4 Euros (generalizando) pode-se dizer que este vinho, ao ser comercializado a 2,99 € sai quase de borla...
Não será bem assim, mas quase. As notas iniciais de citrinos a que se junta algum tropical, aliadas às subtis notas da madeira no aroma, um comprimento e largura de boca muito bons para um vinho deste preço, uma bela acidez e um final razoável tornam este vinho num natural companheiro para a mesa.
Ao preço é uma tentação. Nota pessoal: 15,5+. 

Quinta de Foz de Arouce Branco 2008 | Atum no Forno

Os vinhos brancos da Quinta de Foz de Arouce são, para mim, dos mais interessantes brancos Portugueses e entrariam sem hesitações em qualquer lista que fizesse (se a fizesse). Oriundos dum terroir improvável, como tanto se diz, ali a uns quilómetros das regiões demarcadas do Dão e da Bairrada. Feitos com uma casta, o Cerceal que normalmente é usada em lote e estagiados em barrica. Feitos em quantidades mínimas (a rondar as 2.000 garrafas), o que os tira da vista da maior parte das pessoas. E a custar cerca de 16 € numa garrafeira (12 € na loja da Quinta). 
Tudo factores que contribuirão para que não seja um vinho da moda, mas antes um vinho que calmamente vai angariando os seus admiradores indefectíveis. Ainda por cima tem uma bela aptidão para evoluir em cave... Este 2008 aparece com elegantes notas da barrica, boa fruta e "um perfil que tem muito pouco de modernismo olfactivo" (JPM - Guia de Vinhos 2010). Muito bom na boca e com um longo e agradável final. Um branco com muita classe. Nota pessoal: 17.    

Foi provado a acompanhar um atum no forno.


quinta-feira, 27 de maio de 2010

Arroz de Tamboril e Vinha de Alvaredo Alvarinho 2009

Um simples e reconfortante arroz de tamboril... Piquei cebola, alho e cortei pimento vermelho em tiras. Deitei um fundo de azeite num tacho e deixei em lume brando até a cebola estar transparente. Juntei um pouco de polpa de tomate e o tamboril em pedaços. Juntei água (a quantidade de água varia em função do tipo de arroz)  e o arroz. Deixei o arroz ficar al dente, juntei salsa picada, sal e pimenta e servi. 

Acompanhei com um Alvarinho feito para os Supermercados Dia (o rótulo não refere o produtor) e que se chama Vinha de Alvaredo. Por € 3,89 tem-se um Alvarinho simples e sem defeitos. Fresco e agradável, bebe-se com prazer. Nota pessoal: 15,5.

Quinta da Garrida Reserva Touriga Nacional 2004

A Quinta da Garrida (Dão) é propriedade das Caves Aliança, juntamente com a dos Quatro Ventos (Douro), das Baceladas (Bairrada) e da Terrugem (Alentejo). Para provar este Touriga Nacional de 2004 fiz um naco de perna de porco no forno, barrado com uma pasta de alho, banha de porco, pimenta e sal e que foi regado com um pouco de vinho branco e umas batatas a acompanhar.
Este vinho extreme de Touriga Nacional teve 90 pontos da Wine & Spirits. Cor rubi profunda, notas florais da touriga, fruta bem madura, taninos redondos e um final longo. Um vinho de que é muito fácil gostar. PVP: € 8,99. Nota pessoal: 16,5.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Açorda de Camarão | Vale do Rico Homem Branco 2009

Esta açorda é feita sem caldos, por isso fica a saber apenas ao que leva, não sofrendo por isso do Síndrome do Restaurante Chinês. Levei ao lume um tacho com água, sal, um pouco de pimenta moída e uma malagueta. Quando estava a ferver juntei camarões (deverão ser usados camarões frescos; se congelados devem ser previamente descongelados) e desliguei o lume. Ao fim de cinco minutos retirei os camarões e tirei-lhes as cabeças. Esmaguei as cabeças no almofariz e juntei à água da cozedura. Deixei a fervinhar em lume brando enquanto os camarões arrefeciam. Descasquei os camarões e coei o caldo para uma taça grande onde juntei pedaços de uma regueifa que deixei a embeber. Deitei um fundo de azeite noutro tacho juntamente com uns dentes de alho esmagados e em lume brando deixei os alhos aromatizarem o azeite. Retirei os alhos e juntei o pão e o caldo. Para mais rapidamente obter uma pasta com textura uniforme, passei a batedeira a baixa velocidade. Deixei em lume brando mexendo sempre até a açorda estar homogénea. Juntei então os camarões e salsa picada, envolvi tudo e servi.   


Acompanhei este delicioso prato com um vinho da Adega do Monte dos Perdigões feito para o Grupo Jerónimo Martins. O Vale do Rico Homem branco de 2009. Acabado de sair para o mercado, é vendido a € 3,49 no Pingo Doce. É feito pelo Eng. Pedro Baptista com Arinto, Viognier e Verdelho. Boas notas cítricas, boa acidez. Um vinho honesto e bem feito, para acompanhar comida de uma forma descontraida. 

Quinta de Foz de Arouce Vinhas Velhas de Santa Maria 2005


O Vinhas Velhas de Santa Maria é o vinho de topo da Quinta de Foz de Arouce. Depois do Vinhas de Santa Maria de 2001 e do Vinhas Velhas de Santa Maria de 2003, saiu este da colheira de 2005. Feito de uvas de vinhas velhas da casta Baga (3 ha de vinha com um rendimento de 10 hl/ha) com um pouco de Touriga Nacional. Foram feitas cerca de quatro mil garrafas após estágio de catorze meses em madeira nova. Muito fino e elegante, é um vinho aristocrático que pede bons copos e cuidados na temperatura de serviço. PVP: cerca de 40 €. Nota pessoal: 18.

Foi excelente companhia para um lombinho de porco no forno recheado com chouriço de porco preto.



segunda-feira, 24 de maio de 2010

Lombo de Bacalhau com Enformado de Batatas, Cebola e Pimento

Esta é uma forma muito simples, rápida e deliciosa de degustar bacalhau. Tem-se lombo de bacalhau demolhado. Num tacho deita-se um fundo de azeite e leva-se a lume brando. Junta-se alho esmagado, pimento vermelho em tiras e deixa-se confitar. Junta-se a cebola e vai-se mexendo, sempre em lume brando atá ela ficar transparente. Juntam-se as batatas cortadas em rodelas finas e o bacalhau. Junta-se uma folha de louro e um pouco de pimenta preta, cobre-se com água quente e mantém-se em lume brando até as batatas estarem macias (cerca de dez minutos). Enformam-se os vegetais e rega-se tudo com o caldo. Polvilha-se o bacalhau com salsa fresca e serve-se. 

Este é um prato que gosto especialmente de acompanhar com um Alvarinho. E este Soalheiro 2009 está fantástico, tendo-se tornado um dos meus Alvarinhos de referência. Tinha-o provado há um mês, aqui.

domingo, 23 de maio de 2010

Quinta de Foz de Arouce - Visita e Prova Vertical dos Vinhos

A Quinta de Foz de Arouce situa-se no Concelho da Lousã, na região das Beiras. Está rodeada pelos contrafortes das Serras da Lousã e Penela e é banhada pelos rios Arouce e o Ceira onde o primeiro desagua.
Os antigos documentos existentes na casa referem as propriedades como pertença da família desde o Séc. XVIII, sabendo-se que algumas dependências são mais antigas, pois a primitiva casa foi por duas vezes consumida pelo fogo. A capela contígua à casa foi fundada no Pontificado do Papa Bento XIII em 1724.
A cultura da vinha conhece-se neste local desde as ocupações Visigóticas da Península, como atestam várias lendas que dizem ter o Rei Arunce guardado vinho, entre outros preciosos bens, no seu castelo da Lousã.
A produção vitivinícola na quinta mistura-se com a própria história e demarcação da propriedade, sendo hoje, tal como a adega, a única que se conhece na região.
Dos 60 hectares que hoje compõem a quinta, 15 são de vinha. O solo é predominantemente xistoso e de características aluviais.
A vinha é composta por 3 hectares com mais de 50 anos, (vinha de Sta. Maria), por 9 hectares de vinha com 5 anos e por 3 hectares de vinha velha em reconversão. As castas tintas são distribuídas pela Baga, 80% e pela recém introduzida Touriga Nacional, 20%; as brancas, 5% do encepamento total, são na sua maioria Cerceal.
Os actuais proprietários, os Senhores Condes de Foz de Arouce, procuram manter o espírito hospitaleiro e desprendido com que recebem em sua casa e que caracteriza a verdadeira nobreza lusitana. A produção de vinho é como que a continuação desse espírito que se reflecte na sua filosofia comercial: “Com bom vinho fazem-se sempre bons e verdadeiros amigos”.

Este breve texto, retirado da webpage da Quinta explica parte do fascínio que a propriedade e os vinhos aí produzidos exercem sobre qualquer enófilo...

Há pouco mais de um ano e na sequência de uma prova do vinho branco da Quinta de Foz de Arouce de 1995 feita pelo Gus e publicada aqui no blogue e no Forum Nova Crítica, nasceu a vontade de se fazer uma prova vertical dos vinhos da quinta.
Apesar da atitude deselegante e infeliz da administração do FNC demonstrada na remoção do tópico para uma secção com muito menor visibilidade (apenas mais uma e que explica muito bem porque é que tão poucas pessoas hoje se interessam e participam nesse fórum, mas isso são contas de outro rosário).

Foram-se estabelecendo contactos com os Senhores Condes de Foz de Arouce, proprietários da Quinta e com o Eng. João Perry Vidal, o enólogo, no sentido de nos receberem, ao mesmo tempo que se reuniu um grupo de enófilos admiradores indefectíveis dos vinhos. Após muitas peripécias e adiamentos, ontem dia 22 de Maio de 2010 realizou-se a tão esperada visita à belíssima propriedade.      
 

A partir das 11.00 da manhã, o grupo constituído por 13 pessoas foi chegando ao Paço do século XVIII onde foi sendo muito bem recebido pelos Condes de Foz de Arouce.


A primeira parte do programa consistiu numa prova en primeur dos vinhos mais recentes da Quinta. No belo pátio interior provou-se o branco da colheita de 2009 e o tinto das vinhas velhas de Santa Maria de 2007, ambos ainda em amostra de casco com a prova a ser devidamente conduzida pelo Eng. João Perry Vidal, enólogo da casa. Tábuas de queijos e tapas, para além de aconchegarem o estômago, serviram para mostrar mais uma vez a bela aptidão gastronómica dos vinhos.

Ao fundo viam-se as vinhas da encosta sul...



Depois desta bela prova, era hora de nos dirigirmos ao restautante "A Viscondessa" do Meliá Palácio da Lousã para o almoço e para a prova vertical dos vinhos, mas não sem antes nos despedirmos temporariamente da Sra. Dona Isabel Osório. Infelizmente devido a compromissos pessoais a Senhora Condessa não nos pôde honrar com a sua companhia ao almoço.

O almoço tinha sido previamente marcado (naturalmente) tendo a gerência do Hotel reservado uma bonita sala para o grupo. Relativamente aos vinhos para a prova, cada pessoa levou os que tinha disponíveis nas garrafeiras, tendo o Senhor Conde, o Eng. João Filipe Osório tido a amabilidade de ceder as garrafas de colheitas que nos tinham sido impossíveis de arranjar. Afinal, estamos a falar de vinhos que começaram a ser engarrafados e comercializados a partir da vindima de 1987.

Começou-se por refrescar as garrafas dos brancos. Apenas foi possível provar as das colheitas de 1995, 2003, 2005 e 2006. Quanto aos tintos, abriram-se as garrafas e deixaram-se ao alto, tendo sido apenas ligeiramente refrigeradas antes de serem servidas. Coube ao Eng. Perry Vidal o trabalho de tirar as rolhas às garrafas...




Antes de ser servida a comida provou-se o branco de 1995 que tinha estado deitado uns anos na minha garrafeira e que a maior parte das pessoas nunca tinha provado. Cansado mas não morto, valeu pela curiosidade de provar um branco com 15 anos e do qual tinham sido feitas apenas mil garrafas.


Como éramos 15 pessoas e só havia uma garrafa de cada vinho (o que apenas permitia provar uma quantidade muito pequena) mas muitos vinhos em prova é facilmente compreensível que se tenha optado por ir servindo os vinhos da seguinte forma: primeiro os brancos e depois os tintos e dos mais antigos para os mais recentes. Com dois copos por pessoa foi fácil fazer uma "gestão" individual da prova. Ou seja, era possível ainda estar a provar um vinho quando já se tinha servido outro, em função do gosto pessoal e do alinhamento dos pratos, que foram: 


Terrinha de Caça


Bacalhau gratinado com batatas confitadas


Lombinho de porco preto com molho de Porto



Bolo de chocolate com gelado de framboesa


Sobre a comida, não me alongo. Apesar do menú ter sido previamente acordado, pelo que a comida seria preparada de propósito para o almoço, a terrina de caça estava um pouco seca, o toque de vinagre no bacalhau não foi do agrado geral e os lombinhos eram um pouco duros. Também a fruta que adornava a sobremesa estava um pouco seca. Pormenores a que cada pessoa atribuirá um grau de importância diferente mas que não retiraram prazer à prova. E que prova...

Como tinha referido acima, provaram-se quatro brancos. Quanto aos tintos, provaram-se as colheitas de 1987, 1988, 1989, 1990, 1991, 1992, 1993, 1994, 1996, 1998, 2003, vinhas de Santa Maria 2001, vinhas velhas de Santa Maria 2003 em magnum e vinhas velhas de Santa Maria 2005. Catorze vinhos diferentes. Impressionou a forma como os vinhos estavam todos de boa saúde, atendendo a que em relação a alguns era impossível saber as condições de guarda. Por mim destaco o 1991 e os vinhas velhas de Santa Maria 2003 e 2005. O 1988, o 1992 e o vinhas de Santa Maria 2001 foram mais três vinhos que brilharam num universo onde nenhum vinho defraudou as expectativas. No total foram provados vinte vinhos diferentes, de 1987 a 2009 que resumem a história recente da Quinta de Foz de Arouce.


Não podia deixar de referir a forma entusiástica do Eng. Perry Vidal e do Senhor Conde de irem falando dos vinhos à medida que estes iam sendo provados, nem o interesse do grupo presente em debater assuntos directa e indirectamente ligados aos vinhos em prova. Naturais foram também as referências a João Portugal Ramos, genro dos Senhores Condes e responsável por uma boa parte dos vinhos provados. Destaque ainda para a qualidade do serviço, atento e pronto. No fim do almoço ainda se provou um vinho da Madeira sem rótulo levado pelo Nuno Gonçalves, o que deu origem a reflexões interessantes sobre a idade, castas e método de produção. A rematar, um Dönhhoff Riesling Ausless 2001 em garrafa de 375 ml (ainda deu um fundo a cada) levada pelo João Rico que serviu para brindar a uma prova épica.

Na volta ainda passámos na loja da quinta, onde tivemos a oportunidade de comprar alguns vinhos a preços muito interessantes e de nos despedirmos da Senhora Condessa de Foz de Arouce com um sorriso nos lábios e uma enorme vontade de voltar em breve.



sexta-feira, 21 de maio de 2010

Tortilla, omelete ou what else and a bottle of Prova Régia 2009

Há algumas preparações do receituário ibérico que usam quase os mesmos ingredientes e que no fim conduzem a resultados completamente diferentes. Bacalhau, batata, cebola, ovos (e salsa). Pratos onde o bacalhau não quer alho nem tomate nem pimento (e com a presença da cebola a ser sempre discutida). Azeite, azeitonas e broa de milho (em tugal) compõem o ramalhete. Pastéis de Bacalhau e Bacalhau à Brás da Estremadura (nos pastéis de bacalhau a presença da cebola incomoda puristas, naturalmente, tal como numa tortilla Andaluza), na tortilla Basca de bacalao (pronto, essa leva pimentos e malaguetas, mas também leva salsa) e em muitas outras preparações, seguramente... Pequenas diferenças no tempo e no modo como os ingredientes se transformam com o calor, não é mais do que isso, que origina tantas preparações diferentes.

Se quisesse poderia chamar com alguma propriedade a esta preparação, de omelete/tortilla de bolinho de bacalhau (para quem aceita o toque crocante da cebola como uma mais valia num bolinho de bacalhau. Ou pelo menos como uma coisa que não mata o bolinho). Seria a prima salgada da tarte pastel de nata tão apresentada na blogosfera, mas era palerma. Fica um what else...    

Usei bacalhau e batatas previamente cozidas. Esmaguei as batatas com um garfo e desfiz o bacalhau (depois de retiradas peles e espinhas) com os dedos. Piquei uma cebola nova e um ramo de salsa. Misturei tudo numa taça, juntei ovos, temperei com um pouco de sal e pimenta branca moída na hora. Deixei a repousar enquanto aquecia um fundo de azeite numa frigideira. Voltei a mexer bem as coisas que estavam na taça e deitei o conteúdo na frigideira. Deixei cozer por baixo e virei como se fosse uma omelete (ou uma tortilla), deixei finalizar e servi. Com boa broa de milho e umas azeitonas pretas.


A acompanhar, o Prova Régia 2009. Um Arinto de Bucelas, da Companhia das Quintas. Com rótulo renovado, este clássico mantém o seu perfil. Alia os aromas cítricos a algum vegetal, conjuga uma bela acidez a um corpo razoável. Bom na boca, a pedir para ser servido muito fresco (bastará uma manga ou um frappé e ele manterá a temperatura de 10º C a que mais gostará de ser servido). Nota pessoal: 15,5. 


Mouchão 2001 - O Vinho do Centenário


Há algum tempo atrás tinha falado aqui do Mouchão 2001. Um vinho incontornável quando se fala de Topos do Alentejo. O vinho da colheita de 2001, no centenário da inauguração da adega da Herdade comprada por John Reynolds. Um clássico de Paulo Laureano...

Brilhou a acompanhar um cozido feito de farinheira, chouriço de porco preto, barriga fumada, pernil de porco preto e galinha com batatas, cenouras, nabos e couves. A untuosidade do prato a ligar muito bem com um vinho complexo e especiado.

domingo, 16 de maio de 2010

Alheiras de Mirandela | Redoma 2006

Um tema recorrente em conversas e na blogosfera é o da correcta preparação de uma alheira de Mirandela. A forma mais consensual de as preparar é mesmo na brasa se servidas como entrada, ou numa frigideira de fundo espesso sobre lume forte sem gordura, deixando que libertem as suas gorduras e onde depois se salteiam batatas e grelos previamente cozidos se servidas como prato principal. Para salvaguarda do bom aspecto do enchido podem ser preparadas no forno, num tabuleiro de barro a 140º C ou libertas da tripa com uma incisão longitudinal feita pelo exterior e fritas em óleo abundante. Não falha, mas o prazer de degustar uma alheira na sua plenitude de sabores sai diminuído. Mas preparar uma alheira na frigideira de modo a que fique inteira não depende de quem a prepara, mas sim da própria alheira. As alheiras industriais são (quase) virtualmente impossíveis de preparar dessa forma sem rebentarem por todos os lados. Foi o que aconteceu a uma muito honesta alheira de Mirandela que preparei. Apesar de ter picado toda a superfície com um palito e de ter tido algum cuidado com a temperatura, acabou por se desfazer. Mas nada disso interessa...

Enquanto estava a tratar da alheira tinha deitado batatas novas e couve galega (em vez dos grelos, porque na falta de grelos a sério, recuso-me a preparar um molho de grelos do supermercado e ficar com umas folhas que mingam vergonhosamente quando entram no tacho ao mesmo tempo que o balde do lixo fica cheio de talos. Além disso, a acidez da couve galega harmoniza muito bem com a alheira) que cozi. Reservei a alheira e salteei as batatas na gordura da alheira. Reservei e dei igual tratamento à couve. Servi a alheira sobre cama de couve e as batatas ao lado. Uma delícia a pedir um bom vinho...  


O Redoma 2006 de Dirk Niepoort. Diálogo, Vertente, Redoma, Charme e Batuta são os cinco vinhos tintos de mesa institucionais de Mr. Niepoort. O Redoma está no meio da gama, abaixo do ícone Batuta e do aristocrático Charme, mas não é por isso que deixa de ser um grande vinho do Douro. Como diz Dirk, o Redoma é o seu Embaixador do Douro, o que não é dizer pouco. Feito a partir de uvas de vinhas velhas orientadas a norte e leste de Touriga Franca e Tinta Roriz com Tinta Amarela, Sousão e Tinto Cão. Escuro e austero, extraído na fruta e pouco marcado pela madeira, polido nos taninos, elegante, muito elegante. PVP: quase 30 €. Nota pessoal: 17.


Duas Quintas - da Alorna Reserva Tinto 2007 e de Cabriz Colheita Seleccionada Branco 2009

Para mim vai sendo cada vez mais claro que os vinhos baratos estão cada vez melhores e que os muito caros de há meia dúzia de anos atrás agora estão apenas caros. Contudo, há limites de preço abaixo dos quais não é possivel comercializar um vinho decente de uma forma séria, sob pena de toda a gente ter prejuizo. Como há limites de qualidade abaixo dos quais é preferível beber cerveja. Ou água...  

Depois de ter provado alguns vinhos abaixo de 5 € (maioritariamente adquiridos no Pingo Doce) tive algumas boas surpresas. O Vale da Raposa de Domingos Alves de Sousa, por exemplo. Na sua primeira edição, saía a 4,49 €, agora custa 3,99 €. Honesto, bem feito e a dar um cheirinho de Douro (um pouco como alguns equipamentos de áudio dos anos 80 e 90 que quando eram postos a tocar ao lado de outros que custavam o dobro ou o triplo, conseguiam não sair nada mal), muito agradável na mesa, desde que devidamente arejado e servido a uma temperatura correcta. Ou o Lóios tinto 2008 de João Portugal Ramos, também proposto a 3,99 € e que mantem o perfil tradicional dos vinhos do Alentejo, mas aqui aliado a uma frescura que o tornam uma excelente proposta. E o Casa de Santar? Um vinho da Dão Sul que "ganhou" mais que uma vez a prova da Revista de Vinhos para tintos abaixo dos 4 € (claro que nunca custava menos de 4,49 € e na ultima prova já não entrou, mas isso para o caso pouco interessa) e que nos mostra porque é que os vinhos do Dão já foram dos mais consumidos por terras Lusas. Ou o Adega de Pegões Colheita seleccionada branco. Custa 2,99 €, uma tentação. Apenas para dizer que é possível beber vinhos bem feitos, sem defeitos e acima de tudo com boa aptidão gastronómica sem gastar fortunas.

As escolhas aqui propostas são vinhos de quinta. Não no sentido de vinho de garagem ou de marquise.  São vinhos que se encontram em qualquer hipermercado.

O Quinta da Alorna Touriga Nacional Cabernet Sauvignon Reserva 2007 de Nuno Cancella de Abreu alia a melhor casta portuguesa à melhor casta francesa (é o que diz no contra-rótulo). Começa por se destacar na prateleira pelo cuidado posto na escolha da garrafa e no desenho do rótulo, a indiciar um vinho a custar muito mais do que os 5,99 € pedidos. Um selo dourado aposto à direita do rótulo compõe o ramalhete. Foi refrigerado e decantado e ficou uma hora e tal a arejar. Marcado pelas elegantes notas da barrica, pelo floral da touriga e pelo especiado do cabernet. Um vinho honesto, complexo a que apenas falta algum corpo para aspirar a mais altos vôos. Ao preço é uma pechincha. Nota pessoal: 16,5.


O Quinta de Cabriz colheita seleccionada 2009 é um branco de Malvasia Fina, Encruzado, Bical e Cerceal. Feito pelo Eng. Carlos Lucas, da Dão Sul. Cítrico, fresco, mostra que vale muito bem os 2,99 € pedidos. Mas a Dão Sul é mestra em produzir vinhos de qualidade a preços cordatos. Nota pessoal: 15.  


quinta-feira, 13 de maio de 2010

Favas à Moda da Gândara | Marquês de Borba Tinto 2008

Esta forma de preparar as favas é tradicional da Região da Gândara. Favas frescas, batatas novas e folhas de alho aliadas ao toucinho de porco confitado constituem a base deste delicioso prato. Cozem-se as favas com pele e as batatas novas raspadas em água com sal. Numa frigideira, leva-se toucinho de porco a confitar a que se juntam outros enchidos. Paio, presunto ou chouriço. Cozem-se ovos. Quando as favas e as batatas estão cozidas retiram-se do lume e escorre-se a maior parte da água. Deitam-se por cima os enchidos e o respectivo molho. Junta-se o ovo cozido em rodelas e folhas de alho cortadas em pedaços.


Para este prato escolhi o Marquês de Borba 2008 de João Portugal Ramos. Feito com Aragonês e Trincadeira. Muito limpo de aromas, cheio e envolvente na boca, está um tinto bem agradável. Nota pessoal: 15,5.


Quinta da Pellada 2005

O Quinta da Pellada é talvez o mais emblemático vinho de Álvaro de Castro. Abaixo do Carrocel em preço, mas sem dúvida, um topo do Dão.

O melhor é que os vinhos de Saes, Pellada, e agora o Pape, ganharam perfeição, consistência e segurança, sem com isso descurarem a magia da descoberta e da aventura. São vinhos únicos e impossíveis de replicar, vinhos de autor, vinhos de carácter, vinhos que espelham a personalidade do seu ideólogo. São vinhos que não deixam ninguém indiferente. E, sobretudo, são vinhos que entram agora na fase adulta, vinhos que ganharam juízo, vinhos que deixaram de ceder ao fogo-de-artifício dos primeiros anos, para ganhar em austeridade e maturidade. Mas sempre vinhos com a irreverência de Álvaro de Castro. (Rui Falcão, in Blue Wine)

Feito com Touriga Nacional, Tinta Roriz e Jaen. Estagiou 14 meses em madeira antes de ser engarrafado. Madeira muito elegante, fruta madura e o toque floral do tourigo num conjunto harmónico.  É um daqueles vinhos que dificilmente passa despercebido. PVP: cerca de 30 €. Nota pessoal: 17,5.

Brilhou a acompanhar uma chanfana...

terça-feira, 11 de maio de 2010

Chocos Estufados | Quinta do Rol Branco 2008

Os chocos estufados constituem uma alternativa interessante aos fritos ou grelhados quando já são grandotes (a partir das 200/300 gramas).  Um fundo de azeite no tacho, alho esmagado, cebola picada. Deixa-se estrugir, junta-se polpa de tomate, salsa fresca, sal, pimenta e um pouco de vinho branco. Deixa-se estufar um pouco e juntam-se os chocos lavados e cortados em pedaços. Fica em lume brando até os chocos estarem macios. Servi com batatas cozidas e uma salada de alface.


Uma alface roxa que tinha sido apanhada pouco tempo antes. Temperei-a com flor de sal, um pouco de vinagre da Herdade do Esporão e um fio de Azeite Grandes Quintas. Não precisou de mais nada. Crocante e saborosa, a milhas das de compra.


O vinho escolhido foi um Branco da Estremadura de 2008, o Quinta do Rol. É feito com Alvarinho, Arinto e Chardonnay e fermenta a baixa temperatura. Servido fresco (a 12º C) é pouco exuberante no nariz. Vai libertando aromas cítricos à medida que a temperatura aumenta, mas também aumenta o peso do vinho na boca, embora a acidez seja boa. Ao preço (€ 3,49) cumpre, mas não entusiasma. Nota pessoal: 15.

sábado, 8 de maio de 2010

Lóios 2008 | Entrecosto no Forno com Açorda

O prato é simples e banal. O entrecosto com pele (normalmente designado de entremeada) é barrado com uma pasta feita com banha de porco, alho, pimenta e sal. Vai ao forno a 170º C num tabuleiro de barro a que se junta um pouco de vinho branco. Vai-se virando e regando com o molho. Para acompanhamento fiz uma açorda. Um pouco de azeite e alho num tacho, junta-se pão duro previamente molhado com água a ferver (melhor caldo de carne) e mexe-se até obter uma papa uniforme. Se necessário juntar mais água. Antes de servir, juntar coentros picados a gosto.


Para acompanhar este prato simples escolhi um vinho simples. Um vinho que custa menos de 4 €. Um daqueles vinhos "produzidos de norte a sul do país, que custam pouco dinheiro e que, se bem estudado o prato e a companhia, podem até brilhar mais do que outros tintos mais robustos e encorpados", como escreveu João Afonso na introdução à prova de vinhos tintos propostos a menos de 4 € que a Revista de Vinhos publica em Julho (RV nº 212, de Julho de 2007). O Lóios é o vinho de entrada de João Portugal Ramos, feito em Extremoz. Muito focado na fruta, limpo e equilibrado. Agradável na boca e com um final longo. Feito para acompanhar comida de uma forma despreocupada. Nota pessoal: 15,5.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Fonte do Nico Light 2009

O vinho Fonte do Nico existe nas versões tinto, branco, rosé e este branco light. É produzido pela Adega Cooperativa de Santo Isidro de Pegões a partir de uvas da casta Moscatel (90%) e Arinto (10%), tem 10º de álcool e custa € 1,99. Resolvi provar o vinho depois do Frexou ter falado do vinho no fórum da Revista de Vinhos e  do Alentejano ter deixado uma nota de prova da colheita de 2008 no seu blogue e lhe ter chamado água de colónia para crianças... 

Na verdade os vinhos muito simples e despretenciosos não me tentam, embora tenha que admitir que há cada vez mais boas surpresas. Vinhos sem defeitos comercializados a preços baixos são cada vez mais fáceis de encontrar. Aliás, o Adega de Pegões colheita seleccionada branco já apareceu algumas vezes aqui no blog e é um belo branco ao preço (€ 2,99). 

Este vinho light aparece entusiasmante no nariz, pleno dos aromas do moscatel. Na boca é fresco e reconfortante. Quase não tem final, mas isso também não é importante num vinho deste preço. Para vinho de verão, a solo ou a acompanhar comidas simples, vale a pena. Provei o vinho enquanto ia comendo uns camarões cozidos que ia passando por maionese de alho e uma salada de tomate, pepino, maçã starking e cebola, temperada com flor de sal, azeite Grandes Quintas e vinagre da Herdade do Esporão. Vale a pena experimentar...    

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Filetes de Sardinha

É cada vez mais vulgar encontrar sardinhas abertas, sem cabeça e limpas, na maior parte dos supermercados e peixarias. Temperei-as apenas com um pouco de sal, passei-as por farinha de trigo e fritei-as em azeite bem quente. De fácil execução, são uma delícia acompanhadas com um arroz de tomate com um pouco de orégãos secos.


Acompanhei com um Esporão Vinha da Defesa branco 2008. Tinha-o provado há pouco tempo, aqui.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Grandes Quintas Reserva 2007 | Porco com Feijão Vermelho


Já tinha falado aqui do Projecto Grandes Quintas, quanto provei o vinho da colheita de 2007 e o azeite. O Reserva 2007 saiu agora para o mercado. São 5.500 garrafas com enologia de Luís Soares Duarte (Quinta do Infantado, Bago de Touriga). Feito com Touriga Nacional, Tinta Roriz e Tinta Amarela, estagiou em barricas de carvalho francês. Muito escuro na cor, quase opaco. Foi refrigerado e decantado por duas horas. No início estava muito fechado mas aos poucos foi abrindo para elegantes notas da madeira e especiarias, bem como de fruta bem madura. A Touriga também mostrou o seu lado floral. Fresco, com bons taninos, profundo na boca e com um belo final. Para primeira colheita está muito bem. Ao preço a que é proposto (cerca de € 13,00) é uma excelente compra. Nota pessoal: 17.    


Para acompanhar este vinho fiz um estufado de porco e feijão vermelho a que não chamo feijoada porque foi feito de uma forma diferente. Cozi um pouco de cabeça de porco fumada e chouriço. Num tacho deitei um fundo de azeite, uma cebola picada e uns dentes de alho. Deixei em lume brando até a cebola estar transparente. Juntei polpa de tomate, as carnes e a água da cozedura e deixei estufar. Juntei feijão vermelho cozido, deixei harmonizar sabores e antes de servir juntei coentros picados.