quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Panados de Porco em Vinha d' Alhos na Trilogia do Vinho

47ª Trilogia... A proposta do Luís para mim e para a Ana foi a Cozinha do Vinho. Belo tema que me deixou imediatamente a pensar nas grandes preparações feitas com vinho, do coq au vin à chanfana, passando por faisão ou coelho estufados em vinho tinto ou longas marinadas de porco como a carne à moda das Mercês. Infelizmente todas já aqui apresentadas...
Ficou uma ideia, a de recriar sabores da infância, do cozido das casas da Gândara. Lembrei-me das miudezas de porco em vinha de alhos: a língua, os couratos, o coração, a traqueia que se serviam nos primeiros cozidos depois da matança, acolitados pelos ossos da cabeça, as nóveis morcelas e uma ou outra eventual sobra de enchidos do ano anterior e que compunham os cozidos, até à chegada do novo fumeiro, lá por alturas do carnaval. 
Contudo, a dificuldade em encontrar as necessárias vísceras, impossibilitou a apresentação de um cozido que não sendo o das antologias, era muito interessante pela riqueza que lhe davam as partes menos nobres do porco e que marinando longamente em vinho e alho como que se substituiam aos enchidos, compondo um todo harmónico de que concerteza voltarei a falar.  

Não havendo cozido e não havendo grande vontade de reeditar os pratos referidos acima, veio-me a vontade de ensaiar uma preparação que nunca me tentou especialmente (por ser um prato de desenrasca, de almoços rápidos em tascos manhosos, etc) mas que depois de ler as atentas sugestões do Luís, lá me decidi a ir aos panados de porco. Carne marinada em vinha de alhos, naturalmente, mas com conta, peso e medida. Foi a minha singela contribuição para esta trilogia, mas que me deu muito prazer, já que me reconciliou com esta preparação e que ficou muito acima da média de todos os panados que já provei, mas que mesmo assim tem alguma margem de evolução (pelo menos, para mim, mas digo isto sem saber).

Pedi no talho para me cortarem uns escalopes da perna (a perna era a do porco, naturalmente e escalopes é um termo desconhecido nos talhos, já que aquilo eram umas febras - ou fêveras, como se diz na Imbicta) que deixei umas quatro horas a marinar em vinho branco (não vou falar sobre vinhos de maçerenagens, que é tema do domínio do gosto e gosto, como bem se sabe, cada um tem o seu) com alho esmagado e picado, um ar de pimenta preta, duas malaguetas secas, uma folha de louro e o competente sal de tempero. Depois foi retirar do frigorífico e escorrer o molho da marinada e passar por farinha de trigo, ovo previamente batido e pão ralado (escolhi a versão farinha|ovo|pão ralado em vez da versão ovo|pão ralado, ambas referidas pelo Luís e esta escolha veio a revelar-se mais feliz). Aqui há que ter bom senso. Passam-se os escalopes por farinha, lavam-se e secam-se as mãos, passam-se por ovo, deitam-se no pão ralado e voltam a secar-se as mãos antes de envolver os escalopes no pão ralado. Secos e molhados à mistura normalmente não funcionam (menos para o Ney Matogrosso) e quer a farinha quer o pão ralado deverão levar um pouco de sal fino. Depois de panar os escalopes, fritam-se em gordura abundante e bem quente (optei por fazer a fritura em óleo, em detrimento da banha de porco ou do azeite e não detestei o resultado) o tempo suficiente para a crosta crestar e a carne coza sem secar. Depois é pousar sobre papel absorvente que absorva os excessos de gordura e servir bem acompanhado :)  

Para acompanhar, arroz branco. Tacho com um fundo de azeite, um dente de alho e uma folha de louro. Quando o alho aromatizou o azeite, rejeita-se o alho e junta-se o arroz (agulha, embora o carolino também dê bom resultado). Deixa-se o arroz rebolar no azeite durante um ou dois minutos em lume forte e junta-se água quente (duas vezes e meia o volume do arroz). Deixa-se reganhar fervura, tempera-se com sal e deixa-se cozer dez minutos em lume brando com a tampa. Depois tira-se a tampa, desliga-se o lume e deixa-se mais uns cinco minutos (isto funciona numa vitroceramica e será quase a mesma coisa numa qualquer placa de indução que precisa de recipientes xpto para funcionar ou num fogão eléctrico; num de gás, será um pouco diferente) para o molho reduzir e o arroz ficar mais seco. A completar o ramalhete e já no prato, tomate cortado em pedaços e temperado com flor de sal, orégãos e um fio de bom azeite. 


Gostei francamente destes panados e repetirei o ensaio com pequenos acertos. Em primeiro lugar, dada a necessária rapidez da fritura, uns escalopes do lombinho deviam vir que nem ginjas. Quanto à gordura da fritura, hesito. Mas uma passagem recatada por vinha d' alhos não dispenso. E em semana de cozinha do vinho, não há vinho a acasalar com o prato, apenas porque não me apeteceu, isso há quase sempre. Gostei do tema e não me parece que a minha subtil contribuição o tenha desmerecido, como gostei do galo e do atum em vinho, dos meus compagnons de route.


terça-feira, 27 de setembro de 2011

Terra a Terra Reserva 2008 | Jardineira de Vitela

Este Terra a Terra é um vinho do Celso Pereira situado abaixo do Quanta Terra e comercializado a um preço a rondar os 10 Euros. Feito com duo de Tourigas, a Nacional e a Franca a que se junta a Tinta Roriz a compor o trio, estagia depois 15 meses em madeira. Depois de o provar, fiquei com a ideia de que precisa (pelo menos, nesta altura) de um bom tempo no decanter, já que aparece algo fechado no início (meti-o no decanter 45 minutos antes de o provar) a denotar que já devia ter sido bebido, para o apanhar na força da juventude, ou que ainda precisa de tempo para se mostrar. Ambas as hipoteses parecem correctas, que no vinho não existem verdades absolutas. Efectivamente o vinho deve ter dado uma muito boa prova há um ano atrás e dará seguramente uma muito boa prova daqui a um ano ou dois. Não é um Quanta Terra, mas ainda assim mais que merece ser provado, já que nesta gama de preços a maior parte dos vinhos são muito bem feitinhos, mas algo descartáveis. Este tem carácter, o carácter que Celso Pereira transmite aos seus vinhos e acima de tudo, tem longevidade. Terá sido posto demasiado cedo no mercado (ainda por cima na "grande" distribuição)? Foi a pergunta que me ocorreu. Por mim, vou comprar mais, mas para guardar um ou dois anos. Este vinho tem tudo no ponto, excepto a vontade de dialogar (neste momento). Mas há raça e pujança. Madeira no ponto, 14,5º de álcool que não incomodam e um bom corpo. Bebe-se muito melhor do que se cheira e dá prazer, muito prazer.        


Acompanhei-o com uma jardineira de vitela nacional. Vitela em cubos selada em azeite, com cebola picada, alho esmagado, pimento de estação em tiras finas, tudo a refogar temperado com sal e um ar de pimenta preta. Juntei polpa de tomate e deixei a estufar em lume brando. Juntei chouriço, cenoura, batatas e ervilhas, bem como um pouco de vinho branco. Lume no mínimo durante cerca de 45 minutos, desliguei, aromatizei com umas folhas de hortelã e servi.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Barriga de Porco Grelhada e Seus Acompanhamentos

Nesta 46ª Trilogia a Ana mandou-nos (a mim e ao Luís) mandar vir milhões de cogumelos em vôos charters mas apenas desde que o medo não nos assistisse. Eu fui mandar vir pleorotus, que são uns cogumelos carnudos e saborosos e eles vieram, não em vôo charter nem aos milhares, mas vieram. Não para serem as estrelas do prato, mas para o bem acolitarem. A estrela foi a barriga de porco (prima do entrecosto, tinha osso e tudo e eu continuo sem perceber bem a diferença, mas nos talhos do Burgo há barriga e entrecosto e provenientes da mesma parte do bácoro - mistérios insondáveis dos nossos talhos que também vendem fêveras e alguns até costoletas e salchichas). Em fatias com cerca de um centímetro de espessura, marinadas em vinho branco (o branco do Tejo e do Pingo Doce, barato e bebível, ao contrário do Casal da Eira de pacote, mais caro e imbebível) e alho com uma malagueta seca desfeita e um ar de pimenta preta (só faltou a folha de louro sem o veio tóxico, como os olhos dos camarões), que foi a grelhar no grelhador. A acompanhar umas batatas cozidas com a pele e o herói desta trilogia, o cogumelo que suou num mar de espinafres. Fio de azeite, alho picado, um toque de flor de sal e os cogumelos a saltearem em lume médio. Baixa-se o lume, juntam-se os espinafres e tapa-se com uma tapa (ou um testo). Ao fim de uns dois minutos está pronto. Depois é empratar a gosto e servir. E não há vinho, apenas porque um Adega de Pegões Colheita Seleccionada 2010 estava atacado pela rolha e em perigos de vida para ser bebido. Foi devidamente reservado para ser usado em cozinhados, já que o TCA é um composto volátil e desaparece com temperaturas elevadas.      

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Alvarinho Pouco Comum 2010

Este é um Alvarinho da Quinta da Lixa que está a dar que falar, como todos os vinhos que ganham medalhas. Oriundo de fora das margens do rio Minho, o que partilhamos com nuestros hermanos e que tão bons Alvarinhos dá, este foi nado e criado na Cova da Lixa, longe do terroir de Monção e Melgaço e logo foi apelidado de Vinho Regional Minho e nomeado Pouco Comum. E realmente, a fazer jus ao nome, não parece um Alvarinho e não parece da região dos vinhos verdes. É muito fácil de beber e de se gostar (talvez por isso, a medalha) e pelo preço (€ 4,85 no Continente e esperemos que não suba) vale a pena provar.     


Mostrou-se uma boa companhia para uma singela sopa de pescada :)

domingo, 18 de setembro de 2011

Castello d'Alba Reserva Tinto 2009

Já tenho falado dos vinhos Castello d'Alba por aqui. Dos brancos Reserva e Vinhas Velhas e do tinto de Touriga Nacional, todos eles, vinhos com uma relação qualidade preço muito boa. E agora abalancei-me ao Reserva Tinto 2009 (€ 5,99 no Continente). Tinta Roriz, Tourigas Franca e Nacional a compor um vinho bem feito, cheio de fruta madura, madeira elegante e presente qd, taninos presentes a pedir algum tempo de guarda, mas a dar já um grande prazer na prova. A este preço não se pode pedir mais. E creio que edições anteriores do vinho estarão em muito bom nível.  


Acompanhou muito bem uns borrachos estufados com puré de batata :)

sábado, 17 de setembro de 2011

Bétula 2010 e a Surpresa das Sardinhas

O Bétula é indubitavelmente um dos (muito) bons vinhos brancos do Douro. Francisco Montenegro decidiu meter castas estrangeiras no seu a que chamou Bétula e a que não pode (ainda) chamar Douro (é regional duriense) e calma e paulatinamente meteu esse vinho de Viognier estagiado em madeira e Sauvignon Blanc descansado em inox (50% de cada) ao lado dos melhores e feitos com as castas tradicionais (como o seu - dele - Aneto). O 2008 foi o primeiro, eu gostei muito, houve quem não lhe tenha achado grande piada, mas isto de gostos, cada um tem o seu e o 2009 foi aclamado quasi unanimemente como um dos melhores vinhos brancos do douro e desse ano. A terceira edição, a de 2010, chegou de surpresa: 2 garrafas para provar e dar nota. O desejo de o provar asinha é grande, naturalmente e como tenho feito, volto a provar e segunda lá para março do ano que virá, se não nos declararem extintos (mas mesmo extintos, receberemos contas da Madeira para pagar nos próximos 234 anos). Mas para o provar, era preciso um prato de comida. 

Creio que o bétula acasala bem com muitos pratos (e não é por ser gastronómico, gastronómica é a núria madruga, o vinho limita-se a ter uma boa capacidade de se imiscuir em muitos pratos, desde que bem escolhidos) e eu pensei em fazer uma acasalagem com as nossas sardinhas, gordas e do mar, ao contrário das percas do rio e dos salmões, robalos e demais peixes do viveiro. 

Salta uma sardinhada urbana... Sardinhas no forno, já que não há fogareiro. Sardinhas amanhadas, escamadas e decapitadas. Temperei-as com sal, passei-as por farinha de milho e deitei-as num tabuleiro de barro sobre cama de cebola, pimento vermelho em tiras e um generoso fio de azeite. Forno pré-aquecido a 180º C e o tabuleiro lá dentro durante 20 minutos, tempo para as sardinhas assarem e o pimento aromarizar o azeite. A cebola ficou confitada e ainda crocante.     


Para acompanhar, batatas novas, cozidas com a sua pele (delas) e regadas com um fio de bom azeite em cru. Excelentes as sardinhas e excelentes as batatas e excelente o azeite. 3 excelências.


Mas tão bom como o prato, estava o Bétula e terei que dizer que a acasalagem funcionou bem. O vinho ainda está muito novo, começa com notas de baunilha da barrica do Viognier, continua com notas cítricas e evolui para notas mais tropicais de ananás e lichias, pelo meio vai cheirando a rama de tomate, mas sempre bem composto.
Creio que esta é uma bela aposta de Francisco Montenegro. Um vinho fora das "regras" do douro que mete em sentido muitos outros. E tem uns invejáveis 12,5º de álcool. E parece-me que irá evoluir muito bem em garrafa. Como esta é a primeira nota de prova, fico a aguardar as outras. Mas gostei muito :)

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Creme de Chocolate com Molho de Framboesa

Este creme de chocolate, embora tenha sido acidental, revelou-se uma bela sobremesa. Surgiu da recomendação de uma colega que tinha provado um belo fondant de chocolate nas férias e que é (mal) descrito aqui e que eu, acriticamente, me meti a fazer. Uma barra de chocolate negro ou amargo ou o que se quiser, importante é o teor de cacau (deverá ser alto, naturalmente, para aguentar os demais ingredientes) daquelas de 200g, que se leva ao banho maria ou ao microondas juntamente com 100g de natas até derreter o chocolate e a que se juntam mais 100g de natas batidas como para chantilly. Mais 2 gemas de ovo, envolve-se tudo e leva-se ao frigorífico a fundir pelo frio. Segui a receita original acriticamente, como referi e naturalmente, o fondant não fundiu, ficou um creme. Mas a cereja no topo do bolo foi o molho.


Um fundo de vinho tinto (aqui e apesar do vinho ferver, não é nada conveniente usar daqueles "vinhos" de pacote) num tacho a que juntei açúcar e um punhado de framboesas. Deixei em lume brando cerca de meia hora e passei num passador para retirar as sementes das framboesas.

A ligação deste molho com o creme saiu tão boa que quase me fez esquecer o fondant original (que omite o uso de uma qualquer gelatina, digo eu sem saber).

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Bola de Presunto | Vale da Raposa 2009

Nesta 45ª Trilogia foi a minha vez de propor o tema à Ana e ao Luís. E propus o presunto. E fiz uma coisa absurdamente simples, mas que, IMHO, não terá desmerecido a nobreza do tema. Uma bola, daquelas como se fazia em Lamego, com massa de pão a que talvez se juntasse um pouco de azeite (ou margarina, como refere Maria de Lourdes Modesto, no seu Cozinha Tradicional Portuguesa, o que parece assaz estranho, mas que refere, refere...) e que podia levar sardinhas, bacalhau ou presunto (já as vi de fiambre, mas dificilmente recomendaria). 


Como a vontade de ir comprar fermento de padeiro e amassar era pouca, comprei meio quilo de massa de pão na padaria (muito mais barata que a MFP, digo eu sem saber). Depois foi polvilhar a banca da cozinha com farinha de trigo e estender metade da massa com o rolo até ao (meu) limite da paciencia (ficou com uns 4 milímetros) que deitei no fundo dum tabuleiro de alumínio previamente untado com azeite. Juntei cerca de 200g de presunto fatiado fino, um fio de azeite e cobri com a outra metade da massa, tambem estendida e tambem com cerca de 4 milímetros de espessura. Uni as duas partes da massa e levei a forno pré-aquecido a 180º C durante cerca de meia hora. Depois foi retirar do forno e ir provando. Morna é muito boa, mas curiosamente, foi fria que mais me agradou.


Aproveitei para provar o Vale da Raposa 2009, o tal vinho de Domingos Alves de Sousa com assinatura de Anselmo Mendes que me parece uma das melhores escolhas abaixo dos quatro euros. A colheita de 2007 estava excelente, a de 2008, uns furitos abaixo e este 2009 parece ter voltado ao nível do 2007. E está disponível na modalidade leve 6, pague 5 no pingo doce.  


sábado, 10 de setembro de 2011

Herdade do Peso 2008

Tenho para mim que ser enófilo tuga é ter que ter na alma um qualquer sentimento de desconfiança e muita vontade de dizer mal das grandes empresas que fazem bons vinhos ao mesmo tempo que se endeusam (mais) pequenos produtores que às vezes até podem meter a pata na poça e apresentam vinhos menos constantes no que à qualidade lhes assiste. Nada a favor, nada contra, mas na verdade é mais fácil dizer que o vinho A da empresa X é formatado e tal, do que dizer que o vinho X do produtor A ficou uns furos abaixo do expectável. O nada a favor nada contra, apenas porque e em jeito de disclaimer, não me causa nenhuma urticária provar um vinho dum grande produtor (empresa) e se gostar, dizer bem dele. E se for barato, melhor. Já me custa mais dizer mal dum vinho caro feito às (poucas) centenas de garrafas e vendido a preço condizente ($$$$$, remember?) por um pequeno produtor, mas isso é apenas para não passar por otário (felizmente isso aconteceu-me muito poucas vezes). Uma pessoa fica logo a pertencer ao clube de quem tem uma bimby, um mac ou um bentley em casa e isso não é propriamente agradável. Mais valia ter torrado o dinheiro num casino ou ter comprado muito porto vintage :) 


E esta introdução parva serve apenas para introduzir (passe lá, senhor pleonasmo, não se molhe) um vinho que foi uma das minhas melhores recentes descobertas. Sogrape no Alentejo, mais concretamente na Herdade do Peso. Não é novidade, mas alguns vinhos que tinha provado no passado, não tinham convencido, até pelo IMHO pouco feliz, Grão Vasco (a mim incomoda menos um Mateus Rosé de Aragonês do que um Grão Vasco Alentejano, mas os senhores do marketing da sogrape devem saber muito bem o que fazem e até vendem dois mateus rosés e três grãos vascos) e em geral pela imagem, que não apelava nada à compra. Mas agora a imagem aparece renovada e este colheita 2008 é bastante apelativo. Tem Aragonês, Alfrocheiro e Alicante Bouschet, 14,5º de álcool, um ano de estágio em madeira mais seis meses em garrafa, está redondinho e muito fácil de beber, desde que com o devido cuidado no que às temperaturas de serviço concerne. Por mim, gostei muito, até pelo preço de € 5,99, mais que cordato para este vinho.


Para acompanhar este vinho escolhi uma feijoada. Feita com orelha de porco cozida, chouriço de porco preto e barriga de porco fumada, que pus a rebolar num tacho com um fundo de azeite e a que juntei cebola e alho picados. Juntei uma folha de louro (sem o veio, parece que é toxico, tal e qual como os olhos dos camarões*) polpa de tomate, um pouco de pimenta preta e deixei estufar por cerca de um quarto de hora. Depois juntei cenoura em rodelas, deixei mais meia hora e juntei feijão vermelho previamente cozido. Deixei em lume muito brando a harmonizar sabores e servi com arroz branco. 

* private joke.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Torta Caprese - "uno dei pasticci più fortunati della storia"

Em semana de Itália na trilogia, desta vez a mando do Luís, que me meteu a mim e à Ana a rumar àquela bota de onde nos chegam fiats, alfa romeus e estórias engraçadas dum primeiro ministro bon vivant. Acampei em Capri, a ilha que deu nome a um ford e a uma grande e desarmantemente simples sobremesa, a Torta Caprese. Mais estórias, menos estórias que isto de tentar a toda a força encontrar uma origem (em geral parva) para tudo tem muito que se lhe diga, mais ingrediente, menos ingrediente que isto não são os pastéis de belém, deixo a minha versão, que não cantou, mas encantou quem a provou. 


O ingrediente mais importante é o chocolate, duzentas gramas dele (chocolate em barra do lidl, usei o de 52% de cacau, mas apenas porque não havia o outro de 70%, que é melhor e pouco mais caro) a que se juntam  outras duzentas gramas de manteiga (e não se diz duzentas gramas, mas duzentos grama, vivam os erros ortográficos, mas blog que se preze tem que os ter). Parte-se o chocolate e corta-se a manteiga em pedaços e leva-se a derreter em banho maria (para os apressados e menos preciosistas, no microondas). Juntam-se 4 ovos à mistura e bate-se levemente até obter uma massa homogénea. Juntam-se outras duzentas gramas de açucar e remata-se com duzentas e cinquenta gramas de amêndoas. As amêndoas idealmente deverão ser picadas duma forma pouco homogénea, algo entre o pó e uns bocadinhos com 2 milimetros no máximo. Pode fazer-se com uma simples varinha mágica, uma picadora ou até (pasme-se) uma bimby. Envolve-se tudo e deita-se numa forma de aro com fundo amovível devidamente untada com manteiga. Leva-se ao forno pré-aquecido a 170º C durante cerca de 30 minutos. Coisas como um palito para verificar a cozedura e uma folha de alumínio de cozinha para não deixar tostar ajudam a que não saia asneira que esta torta é muito boa mas apenas se não ficar seca. Desenforma-se e cobre-se com açucar em pó. Serve-se.   


terça-feira, 6 de setembro de 2011

Pequenos Rebentos Alvarinho 2010 | Feijoada do Mar

Provei este Alvarinho há pouco mais de três meses na Garrafeira Tio Pepe e gostei muito. O produtor, Eng. Márcio Lopes teve a amabilidade de me oferecer uma garrafa para uma prova mais calma que afinal apenas serviu para confirmar a bondade do vinho. Algo recatado no nariz, oscilando entre os cítricos e algum tropical, é pleno na boca, tem uma bela acidez e muita frescura. Apesar de ser a primeira colheita, está tudo num bom balanço. Bebe-se com muito prazer. O preço (€ 8,50) é cordato, face à qualidade do vinho. Fiquei fã.     


Para acompanhar, uma feijoada "do mar" que mais não é do que um preparado do Pingo Doce, com camarão, mexilhão, lulas e as famigeradas delícias do mar (o pacote que comprei tinha apenas dois pedacinhos - uma sorte) a que chamam Tesouro do Mar (aqui rio-me sempre, não sei porquê) que deixei a descongelar, enquanto piquei grosseiramente uma cebola e dois dentes de alho e os meti a refogar em azeite e num tacho de fundo espesso. Depois da cebola ficar macia, juntei um pouco de pimenta preta, duas malaguetas secas picadas e dois tomates maduros picados, bem como um pouco de vinho branco. Deixei estufar em lume brando, juntei feijão manteiga previamente cozido, tapei o tacho e deixei cerca de meia hora. Juntei os tesouros do mar, deixei ganhar fervura, desliguei o lume e esperei uns cinco minutos antes de servir. Para comida low-cost não é nada má...  

domingo, 4 de setembro de 2011

Costeletas de Borrego com Molho de Hortelã | Quinta da Fata Clássico 2006

Estas costeletas de borrego quase poderiam não ter história se não fosse o delicioso molho que fui buscar ao Avental do Gourmet e que tão bem compôs o prato. Costeletas de borrego grelhadas rapidamente na chapa bem quente, batatas assadas com pele e o molho. Feito com azeite, alho picado, hortelã picada e uma malagueta picada. Levei o azeite a lume brando, juntei os restantes ingredientes e fui mexendo até o azeite estar bem quente, mas sem ferver. Depois foi espalhar o molho por cima das batatas e das costeletas e comer deliciado :)


Nos líquidos, um clássico do Dão, o Quinta da Fata 2006 de que tinha dado nota aqui. Refrigerado e decantado, foi servido entre os 16 e os 18º C. Tourigo do Dão, complementado por Tinta Roriz, Alfrocheiro, Jaen e Trincadeira de suaves encostas voltadas a sul fizeram um vinho terroso, com boas notas de frutos vermelhos, taninos presentes sem incomodar, corpo vestido de veludo. Um Dão como quase já não se vê e que ajuda a perceber porque é que o Dão já deu dos melhores vinhos deste rectângulo à beira mar plantado. Custa pouco mais de cinco Euros no Intermarché, o que é uma muito boa notícia.  


quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Arroz de Entrecosto | Alentejo Reserva Tinto Pingo Doce 2010

Depois de ter provado o Dão, o Douro e o Palmela, todos reservas, todos tintos e todos do Pingo Doce, ficou a faltar o do Alentejo. Enologia de Mário Andrade com produção da Falua, apenas refere que é feito com as castas típicas da região. Como os outros todos são vinhos que de algum modo expressam a região de nascença, não seria difícil prever que este não seria diferente, pelo que a vontade maior foi estabelecer uma harmonia com um prato pesado e muito condimentado, ao nível de um vinho que ostenta no rótulo a etiqueta de "reserva" e é da colheita de 2010 (é afinfar-lhe com muito tempero que acabamos todos num mar das índias) já que bons e sólidos taninos e muita fruta bem amadurada e muito corpo ele teria.

Fiz um arroz de entrecosto. Entrecosto de porco (do do Pingo Doce, há que respeitar o terroir, ainda que neste caso o terroir menos obvio e mais palerma, o da cadeia de lojas) que deixei umas seis horas a marinar em vinho (restos das garrafas de tinto que vou guardando) e alho. Chegada a hora do confronto com o tacho, o de fundo espesso devidamente acolitado com um fundo de banha de porco e sentado em lume esperto, lá foram os pedaços de entrecosto a alourar alegremente. Quando dourados, receberam a companhia duma generosa cebola grosseiramente picada e dumas rodelas de chouriço (este também do terroir do Pingo doce, mas aqui de porco preto, da Miguel & Miguel, Lda, de Serpa - com um delicioso toque de pimento e boa RQP*, IMHO**). Uns bons dez minutos em lume esperto, uma folha de louro a saltar para o tacho e eis que é hora de juntar o vinho da marinada (com os alhos esmagados) que fica quase a cobrir a carne. Baixa-se o lume para o mínimo logo que a mistura começa a fervilhar e deixa-se em extremosa estufagem durante o tempo de meio jogo de futebol (não contando o tempo do intervalo). Ao fim desse tempo, a carne deverá estar macia. Faz-se tarde para juntar o tempero: pimenta preta a gosto, cravinho em pau, malagueta a gosto e cominhos para completar a volúpia. Fervilha, calcula-se a água a acrescentar para cozer o arroz, acrescenta-se a água (terá sempre e pelo mínimo, o dobro do volume de arroz, que se quer carolino) e depois o arroz. Quando recomeça a ferver, baixa-se o lume para o mínimo e tapa-se o tacho. Doze minutos, uma dúzia inteira deles e o arroz estará prazenteiro e suave no palato. Acrescenta-se o sabor final que comporá o ramalhete: umas singelas folhas de hortelã (seis se inteiras, duas se picadas) que se envolvem. Serve-se... 


E foi este prato, indubitavelmente de forte sabor, que apresentei ao vinho, esperando um casamento celestial. Mas este vinho, ao contrário do que esperava, não era cheio de cor, nem um portento de fruta a compotar, nem um mar de álcool, nem um tarzan taborda. Encontrei um vinho pouco carregado na cor, elegante, cheio de fruta fresca (até parece que tem pinot), algo especiado, com bons taninos e com apenas 13,5º de álcool. A madeira aparece sem notas de baunilha a cumprir (bem) o seu papel. Sendo talvez o menos exemplar da região de onde provêm, é capaz de ter sido o que mais me agradou. E custa € 3,49 o ano todo (agora com o tal desconto do leve 6 pague 5). Nota negativa apenas para a rolha - aglomerado de cortiça. Não havia uns cêntimos para uma rolha de cortiça?  


* RQP - Relação qualidade, preço;
** - IMHO - In My Humble Opinion - Na minha (mais que) humilde opinião.